A choice...
Longos minutos se passaram, talvez horas, abri meus olhos cansados. Meu corpo estava fraco e faminto. Eu não conseguia mais distinguir entre a dor muscular e o ronco de fome que vinha do meu estômago. O sol já tinha se posto e as sombras da noite pairavam sobre a casa, mas tons de azul ainda brilhavam no céu. Eu ouvi sussurros à distância, provavelmente vindo de um quarto próximo. Levantei-me e cambaleei até a porta imensa. Pressionei a minha orelha contra a madeira fria, na tentativa de escutar. Nada. As palavras eram faladas tão rapidamente que era impossível entendê-las.
Um calor percorreu minhas veias, um sentimento de ódio tomou conta de mim, eu não podia suportar mais aquilo. Eu recuei e girei para que eu encarasse a porta. Respirei fundo, cerrei os punhos e em um frenesi, comecei a dar socos contra a madeira. Lágrimas de dor cresciam em meus olhos, mas eu não parei e em poucos segundos, as vozes se calaram e a porta se abriu.
Um homem ainda mais pálido observava-me dos pés a cabeça. Ele usava um smoking preto e parecia ter sido extraído de um conto de fadas. Seus olhos âmbar eram brilhantes e penetrantes, e um sorriso parecia aparecer no canto dos seus lábios. Eu o fitei em silêncio, impressionada com sua beleza artificial, parecia um sonho. Ele fechou a porta e atravessou a sala em direção a uma das cadeiras próximas da janela. A fragrância de lavanda me inundou, lembrando-me Gabriel, ele tinha o mesmo cheiro delicioso e hipnotizante.
Ele esparramou-se em uma das cadeiras, cruzando as pernas graciosamente. Sua postura era semelhante a um rei. Seus olhos estavam calmos e atentos. Ele apontou para uma cadeira ao seu lado e eu obedeci, em silêncio, embora parte de mim estivesse tomada pelo medo, eu sabia que, como os outros, ele também era um vampiro, sua pele cadavérica e expressão sedutora era semelhante aos outros. Quando me sentei, com os lábios entreabertos, sua voz macia ecoou no ar.
- Você é muito impaciente. - Ele disse, esticando os lábios em um sorriso, um sorriso que seria lindo, se não fossem pelas presas. Ele era um vampiro. - Mas devo admitir que você é forte, mesmo sem comida, conseguiu golpear a porta descontroladamente. Parabéns, milady.
- Quem ... Quem é você? P-Por que estou aqui? - Perguntei e seu sorriso encantador transformou-se em um sarcástico.
- Mas você inundará-me com perguntas tão rapidamente? Os seres humanos ... sempre ansiosos pelo pote de mel. - Ele brincou, balançando levemente a cabeça em desaprovação. - Mas eu estou profundamente magoado, como não te lembras de mim?
- Eu nunca o vi antes, você está louco. - Repreendi, esquecendo por um momento com quem eu falava. Ele estreitou os olhos, parecendo irritado com meu tom.
- Sempre tão afiada, eu gosto disso. Mas você está errada, nos conhecemos. - Ele insistiu, mas eu tinha certeza de que não o conhecia, eu lembraria daquele rosto.
- Eu sei o que falo, não te conheço.
- Hmm ... Posso provar que você está errada. - Ele disse, com outro sorriso sarcástico. Eu não respondi, esperando alguma revelação. - Bem, me lembro a última vez que nos encontramos, você não foi muito simpática.
Houve um silêncio rápido depois de sua última frase, ele provavelmente esperava uma reação minha, mas permaneci imóvel na cadeira. Ele deu um longo suspiro e continuou.
- Você não é divertida. - Ele choramingou, enquanto uma de suas mãos brincava com o botão do casaco. - Nós nos conhecemos em um local estranho, não te lembras?
- Não. - eu disse friamente.
- Certo. - Ele disse, inclinando-se em minha direção. Sua mão fria tocou meu braço, e fragmentos de memória apareceram como flashes em minha cabeça. Uma montanha, a imagem de Joe no nevoeiro e, de repente, a cara monstruosa de Frederic surgiu em minha mente, sorrindo. Levantei-me num salto, cambaleando para longe dele, ao mesmo tempo uma risada sombria ecoou pela sala. Não era possível, não podia ser ele.
- Não, não pode ser ... você está muito diferente, você não é ele. - Balbuciei, sentindo minhas pernas tremendo.
- Devo tomar isso como um elogio? - Ele zombou, acrescentando. - Mas essa é a vantagem de ser ... Como você os humanos chamam? Morto-vivo? - Ele se levantou e caminhou em minha direção.
A dissimilaridade era chocante, a última vez que o vira, Frederic era dono de uma aparência grotesca, como um monstro, e agora ele era belo como um príncipe? Impossível. Encostei-me em uma parede e ele se aproximou de mim, me encarava com algum tipo de satisfação, como um campeão contempla o troféu recém-adquirido. Ele estendeu uma mão e a colocou contra a parede por cima de meu ombro, seu rosto estava próximo ao meu, a outra mão deslizou pela mecha de cabelo que contornava meu rosto. Seu perfume invadiu minhas narinas, me entorpecendo. Virei o rosto para me livrar de seu toque e ele estreitou os olhos.
- Você é bonita, não me admira que ele esteja apaixonado por você. - Ele afirmou e franzi o cenho confusa. - Ah, eu suponho que ele ainda não tenha lhe dito.
- O que você está falando? - Perguntei, meus olhos assustados encontraram os seus.
- Seu amado, David ... ele a vê como sua alma gêmea. - Confessou, um riso irônico escapou de seus lábios.
- O que você fez com ele? - Sondei.
- Não se preocupe, ele não está morto ... ainda.
- Não se atreva a encostar um dedo nele. - Eu avisei, tentando soar o mais corajosa que eu podia.
- Ou o que? - Perguntou desafiadoramente, mas não respondi, simplesmente porque qualquer palavra soaria ridícula agora. - Como eu imaginei, você sabe que não seria capaz de me machucar. - Ele ergueu sua mão e seus dedos frios roçaram em minha pele, traçando a linha do meu pescoço.
- Por que estou aqui?
- Porque eu quero você. - Ele respondeu, inclinando-se. Arrepios percorreram meu corpo assim que seus lábios frios tocaram minha pele ardente. Ele moveu lentamente a cabeça e suspirava enquanto sua boca acariciava cada centímetro do meu rosto tremulo, sua saliva era como cubos de gelo em minha pele. Ele cuidadosamente deslizou os lábios até meu queixo, percorrendo toda a linha da minha mandíbula e, finalmente, pausando em meu pescoço. Meu sangue fervia com seu toque. Sua boca parecia faminta em minha garganta e um gemido escapou de meus lábios, um gemido de prazer. Por um momento todo o medo esvaecera de minha mente e ele riu, vitorioso. O braço que estava encostado na parede moveu-se para a minha cintura e me enlaçou, puxando meu corpo mais perto dele. Eu senti seu peito firme contra o meu, sua boca continuava a tocar na minha pele quente e foi então que senti suas presas, as bordas afiadas levemente arranhando minha pele, e o medo tomou conta de mim novamente. Tentei afastá-lo, mas eu estava presa em seus braços.
- Minhas pequenas presas não te excitam? - Ele perguntou com um sorriso no canto dos lábios.
- Deixe-me ir - Pedi, mas ele permaneceu em silêncio, me olhando admirado. E de repente, seus lábios tocaram os meus. O beijo começou selvagem e nervoso, eu lutava, tentando me soltar, mas ele me segurava firmemente contra ele, tornando qualquer movimento impossível. Então gradualmente cedi, meu corpo se desfez em seus braços definidos. Notei que a ansiedade também diminuira, como se tivéssemos sido inundados por uma calmaria. Uma das minhas mãos deslizou para sua nuca enquanto eu encravava meus dedos em sua pele fria. Nosso beijo tornava-se mais selvagem novamente, ele esfregava suas pernas contra as minhas, suas mãos deslizaram para a borda da minha camisa, meu corpo queimava por dentro.
A porta se abriu e ele afastou-se lentamente, engolindo um grunhido enquanto virava a cabeça para ver quem era. Olhei por cima de seu ombro, o marido de Caroline nos observava do vão da porta. Frederic libertou-me de suas mãos e virou-se. Meu corpo continuou paralisado contra a parede, enquanto eu tentava recuperar o fôlego.
- Kerl. - Ele disse, assentindo com a cabeça para que o homem entrasse.
- Sr. Andrews. - O homem respondeu, parecendo irritado com o que vira, mas continuou. - Desculpe interromper, temos alguns problemas.
- O que é? - Frederic perguntou fitando a escuridão fora da janela.
- Aquele homem, David ... - Ele pausou e olhou para mim. Senti um nó formar-se em minha garganta, o que estava acontecendo? Houve um longo silêncio até que Frederic se manifestasse novamente.
- Ok, reuna os outros, estarei com vocês em um minuto. - Ele ordenou, virando-se para encarar Kerl novamente, um olhar que parecia impaciente, como se dissesse "Saia daqui". E em um piscar de olhos, a porta fechou-se.
Frederic atravessou a sala em minha direção novamente. Ele parou em minha frente, me olhando nos olhos, como se tentasse enxergar além deles e, em seguida, estendeu a mão e acariciou delicadamente a minha pele.
- Nós continuaremos mais tarde, o seu príncipe encantado adora causar-me problemas. - Queixou-se, caminhando em direção à saída. Ele parou rapidamente na porta e se virou para me olhar. - Oh, tudo seria muito melhor com o seu consentimento.
E então, desapareceu pela porta gigante. Eu ouvi a chave girar na fechadura e logo depois, caiu o silêncio na sala.
Pela primeira vez na últimas horas, consegui parar para refletir sobre tudo o que tinha acontecido. Frederic, o monstro que eu vira em meus sonhos esteve diante mim, e tão deslumbrante quanto o nascer do sol. Ele me queria, seria essa a razão pela qual ele não me matara? Se ele realmente quisesse me aniquilar, ele já o teria feito há muito tempo, então ele provavelmente me queria viva ou morta-viva .... Mas por quê? Seria eu apenas o prêmio de uma batalha entre ele e David que vinha se arrastando por dos séculos?
0 comments