Tudo foi uma grande descoberta, em todos os sentidos possíveis.

Pela primeira vez eu não tive medo de romper uma barreira que por anos me rodeou.
Por alguns minutos me vi em cima de um muro e me restavam apenas segundos para que decidisse de qual lado pular. Em um dos lados, eu podia me ver como se assistisse a um filme. Cenas da minha vida cotidiana, sempre previsível, sem anseios, sem grandes expectativas, uma eterna mesmice. Do outro lado, a paisagem era tomada por uma densa neblina. Cerrei os olhos mas ainda assim, era impossível enxergar além dela. Eu sabia que deveria escolher um lado, mas qual? Deveria eu saltar para o lado sem metas, do qual não existiriam mudanças, surpresas? Ou deveria eu me arriscar e conhecer um mundo completamente novo? Mesmo sem estar certa do que encontraria.

Senti uma brisa suave vindo da neblina. Fechei os olhos e a deixei me acariciar. Ela era quente, misteriosa e convidativa. E foi então que abri os braços e saltei. Saltei em direção ao desconhecido.
Sufoquei um grito a medida que me choquei com o chão. A dor espalhava-se rapidamente por cada centímetro de meu corpo. Permaneci ali, imóvel e em silêncio. Leves rajadas de vento tocavam minha pele, como se no intuito de abrandar a dor.

Lentamente abri os olhos e aos poucos minha visão se ajustou com a claridade que me rodeava. O manto branco ainda era cegante, mas agora eu podia ver com um pouco mais de clareza. Na minha visão periférica, havia um pomar e à minha frente, haviam montanhas e uma cachoeira. O canto dos pássaros davam vida a uma linda melodia. Era maravilhoso.

Me levantei com dificuldade e caminhei sentindo a grama macia massagear meus pés descalços. À cada passo, eu me extasiava mais com tanta perfeição e ao mesmo tempo que enchia meus pulmões com aquele ar puro do campo, eu me sentia feliz por não ter sucumbido ao ímpeto de voltar à vida monótona de outrora. Provavelmente haveriam alguns rochedos que tornariam minha jornada árdua, mas havia uma voz interna me dizendo que eu conseguiria ultrapassá-los facilmente.