Batteries recharged
Era meia noite e depois de uma longa espera, finalmente entramos no ônibus. Em cima dos assentos, nos aguardavam kits de viagem, com cobertor, travesseiro e uma caixinha com bolachas e outros petiscos. Já fui logo reclinando a poltrona e me aconchegando, sabia que a probabilidade de que eu adormecesse era abaixo de zero, mas eu teria que tentar, afinal, seriam 6 horas de viagem. Poucos minutos depois, o onibus saiu da garagem e deu inicio a nossa longa jornada.
Não vou dizer que tive um sono de princesa e que descansei, é dificil conseguir essa façanha dentro de um onibus que chacoalhava como um liquidificador e também com um passageiro que roncava de forma ensurdecedora, eu tinha esperanças que as chacoalhadas poriam fim na sinfonia, mas, acontecia sempre o contrário; A cada balanço, ele alcançava um novo tom, um sempre mais alto que o outro.
E então, pra minha surpresa, as 5:50 da madrugada, o ônibus parou na Rodoviária de Curitiba - achamos que o ônibus atrasaria em pelo menos duas horas. Com as caras amassadas e um mau humor indescritível, eu e meu amigo descemos do ônibus e nos deparamos com um baita frio e com um céu ainda escuro. Nosso check-in era só ao meio dia, então tinhamos 6 horas de "fodeu, o que vamos fazer?" mas, mesmo em solo desconhecido, colocamos as malas nos ombros e saimos andando sem rumo. Como era muito cedo e até o Murphy provavelmente dormia, em apenas 10 minutos de caminhada, demos de cara com o nosso hotel que tinha uma lanchonete 24 horas. Resolvemos entrar e comer enquanto traçavamos algum plano praquela manhã. Depois de nos deliciarmos com o café, deixamos nossas malas no guarda-volumes do hotel e com apenas um mapa manchado nas mãos, saímos em busca do que fazer pelas próximas 5 horas.
Eram 7 horas da manhã de um domingo em meio a um feriado, as ruas estavam desertas e úmidas pela chuva, a nossa sorte é que era tudo plano, então a caminhada se tornou menos cansativa. Mas foi assim, andando por 4 horas sem parar que nos divertimos a beça e que conhecemos praticamente o centro da cidade inteiro. Fomos abordados por assaltantes educados que desistem de te assaltar se vc os ignora, encontramos uma amiga e tomamos o melhor chocolate quente do mundo no Paço da Liberdade. Conhecemos também as pombas satânicas e os ônibus biarticulados, que rotulamos de "Killer bus". Às duas da tarde, mortos de cansaço, finalmente fomos para o hotel fazer o check-in e ao entrar no quarto, uma cama nunca me pareceu tão atraente. Mesmo com o cabelo molhado depois do banho, enterrei a cabeça no travesseiro e tirei o melhor cochilo da minha vida.
Na segunda-feira, acordamos logo cedo pra aproveitar o máximo do dia e fomos atrás do onibus de turismo, que parecia uma idéia melhor do que usarmos o nosso mapa manchado pra chegar a algum lugar. O ônibus é igual aos de dois andares de Londres, e a idéia de sentar no andar de cima era interessante até percebermos que o motorista sofria de alguma espécie de síndrome de piloto da formula 1, ele quase voava e ao invés de eu aproveitar as paisagens, segurava nas barras de segurança com força com a sensação de estar em uma montanha russa. Após as doses de adrenalina, paramos no relaxante Jardim Botânico, o lugar é lindo, e provavelmente seria ainda mais se o dia estivesse ensolarado. Ficamos lá por um bom tempo gastando as pilhas das nossas cameras e por culpa da chuva, resolvemos pegar um taxi pra voltar e, foi então que descobrimos que não é só na rua que vc é abordado por fanáticos religiosos, nos taxis de Curitiba também. O taxista devia estar entediado e resolveu que era hora de pregar pra alguém, e escolheu os dois passageiros turistas e cansados. Ao invés de ficarmos irritados com a situação, não aguentamos e explodimos de rir, e o taxista provavelmente frustrado com a nossa reação, se calou. Thank God!
Além de lugares lindos, em Curitiba também é possível ficar obeso em questão de horas, há milhões de lugares pra comer e vários em um estilo meio old. Ao lado do nosso hotel, havia uma padaria que servia buffet de bolos, imaginem eu, a Magali em pessoa, em um lugar desses? Eu parecia um cachorro faminto observando um frango assado na padaria.
Fez frio e choveu por praticamente todos os três dias que ficamos lá, mas isso não impediu que fizessemos quase tudo que queríamos. O melhor de tudo foi que por 72 horas, minha única preocupação era: pra onde eu vou hoje? Não há nada melhor do que se desligar do mundo, mesmo que por um curto período. Sem contar a sensação de liberdade, the best feeling in the world.
A volta foi um pouco mais sofrida. Saímos de Curitiba as 16h e chegamos em São Paulo por volta da meia noite. Não foi fácil aguentar 8 horas de viagem com uma enxaqueca fodástica e um bebê se esguelando no ônibus. Murphy tarda, mas não falha, não é?
E que venham outras viagens. Attraversiamo!
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