Forever in our heart
Era Junho de 1999, no caminho pra casa de um bate e volta na praia, resolvemos parar no Shopping Litoral, que na época ainda era novidade nas redondezas. Enquanto andávamos pelos corredores, demos de cara com uma feira de animais. Eu, louca por bichinhos, convenci meu pai a parar pra que dessemos uma olhada. Ele ficou esperando do lado de fora enquanto eu, minha prima e irmã nos deliciávamos com os mais variados tipos de pets. Hamsters, gatinhos, cães, pássaros.
E foi ali, em uma gaiolinha que eu o vi pela primeira vez. Pequeno, sujinho e serelepe. Foi amor a primeira vista e sai de dentro da feira com um único propósito: dizer ao meu pai que queria aquele cãozinho, e não aceitaria não como resposta. Meu pai, ainda hesitante, entrou pra dar uma olhada. Tinhamos acabado de perder um outro cão de forma inesperada e diante da possibilidade de ver sua família feliz com outro bichinho novamente, ele resolveu levá-lo sem consultar a minha mãe, pois decidimos que seria uma surpresa. Ele era tão pequeno que no caminho de volta, veio dormindo no meio das minhas pernas, como um bebêzinho. Ao chegarmos em casa, o escondemos dentro da mala e a entregamos a minha mãe, que soltou um grito ao abri-la e ver algo branquinho, peludo e pequeno se mexer. E mesmo irritada por termos adquirido-no sem o seu consentimento, ela o agarrou e em poucos minutos já ria e se apaixonava pelo pequeno.
Não sabíamos qual nome dar a ele, e como minha mãe era fã de Star Wars, acabamos optando por Luke, o nosso pequeno Jedi.
Ele sempre foi um cãozinho as avessas, nunca quis fazer xixi no lugar certo e levava meu pai a loucura cada vez que soltava um jatinho em cima do piso de madeira novinho. E também haviam os dias em que ele acordava com a veneta virada e resolvia fincar os dentes no braço de alguém. Mas nada disso superava as vezes em que ele nos fazia rir.
Há cincos anos atrás, ele começou a ficar doente, teve um problema seríssimo de artrite e suas patinhas começaram a entortar de forma surpreendente, alguns veterinários até sugeriram que o levássemos a USP para que ele fosse estudado e tratado. Sofríamos ao vê-lo sofrer e achamos que não iria escapar, mas o nosso Jedi seguiu firme e forte, nos proporcionando ainda mais alegria sempre que andava rebolando por causa de suas patinhas achineladas. Ele ficou até famoso na clínica que frequentava, as atendentes o chamavam de "o cachorrinho com patas de coelho".
Mas então, no último mês, ele começou a apresentar comportamentos estranhos. Chorava de dor, não comia direito, entre outras coisas e preocupados, resolvemos levá-lo ao veterinário para um check-up. E então foi diagnosticado Insuficiência Renal. E por um mês inteiro, eu lutei como uma mãe lutaria por um filho. O levei em várias clínicas, tentei o possível e até o impossível pra que ele ficasse bem. Haviam dias em que eu voltava pra casa com a roupa cheia de pêlos e cheirando a xixi depois de ter passado o dia inteiro correndo com ele nos braços pra lá e pra cá. E foi na madrugada de sexta para sábado que ele nos deixou. O rim dele deu falência e acabou atingindo outras áreas do corpo e ele não resistiu.
Na sexta-feira o visitei a noite, e o mais engraçado é que o universo pareceu ter se movido pra fazer com que eu fosse até a clínica, como se tudo já estivesse planejado e eu tivesse a chance de vê-lo uma última vez pra me despedir.
Nunca me esquecerei das noites de inverno em que ele deitava na minha cama e me cutucava com a patinha pedindo pra entrar debaixo das cobertas, ou de quando ele me via chorando e corria até mim e começava a lamber meu rosto pra eu parar, de como ele adorava deitar no sol, ou de como ele latia enlouquecidamente sempre que o interfone tocava. Ou da forma como ele me olhou na última noite em que passou em casa, como se ele soubesse que não iria mais voltar. Eu nunca vou me esquecer daquele cachorrinho pequenininho, com a patinha do tamanho do meu indicador, que roía os fios, e que dormia como um cachecol no meu pescoço.
Que a força esteja com vc, Luke, wherever you are :)
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