A Tribute
Há alguns anos atrás, após ter fracassado na minha primeira escolha em cursar Psicologia, decidi que engressaria no curso de Letras, a decisão não partiu de um príncipio lógico, eu apenas sabia que estudar era necessário e com isso, optei pelo que julguei ser o mais facil (se arrependimento matasse). O primeiro dia de aula foi um martírio para mim, tendo em vista que detesto multidões, todos aqueles rostos estranhos estavam grudados em mim, que na época me vestia apenas de preto, minhas unhas eram sempre pintadas de cores escuras, as pessoas geralmente me olhavam com certo desconforto, como se eu fosse uma espécie de aberração - ok, isso foi um exagero. Me sentei no fundo da sala, me distanciando o máximo que pude de todos, eu de fato era anti-social, eu abominava a idéia de me sentar em um circulo de pessoas e conversar. Eu passava parte das aulas observando a todos, por algumas vezes, eu desejava ser diferente, eu queria ter o dom para me comunicar, para ser rodeada de amigos, como ela era.
Quem era ela? Uma mulher arrojada, que sempre vestia roupas caras e chiques, seus pés eram sempre cobertos por Scarpins ou Channels. Ela estava sempre rodeada de pessoas, todos recorriam a ela, qualquer que fosse o motivo. Eu a observava sempre, e uma energia vinha dela como um imã, e pela primeira vez eu quis me aproximar de alguém. Nós eramos como polos opostos, ela era requintada, inteligente, falava um português rebuscado e seu sorriso sempre exalava alegria, eu, em contrapartida, era tímida, ainda menina, meu português era composto por gírias e palavrões de todos os tipos. Nunca achei que ela veria algo interessante em mim, nunca acreditei que ela de fato se interessaria em ser minha amiga, porque ela me escolheria dentre tantos "crânios" que a veneravam?
Por intermédio do destino, passamos a fazer alguns trabalhos juntas, me "infiltrei" em seu grupo de pessoas estranhas, meramente porque eu queria ficar ao lado dela. Por muitas vezes, enquanto os outros da turma compravam lanches na cantina durante o intervalo, nós ficavamos sozinhas, o silêncio embaraçoso pairava sobre nós, mas eu sempre engolia o nó em minha garganta e tentava quebra-lo com comentários tolos e eu era sempre tomada por uma enxurrada de menosprezo, vindo de mim, não dela. Ela sempre respondera com polidez, embora eu acreditasse que no fundo o que ela realmente queria dizer era "Que tola", de qualquer forma, mesmo com minhas investidas desinteressantes, acabei conhecendo-a mais, me admirava o gosto que ela tinha pela vida e a paixão que ela depositava em seus sonhos. Eu a invejava, não de uma forma doentia ou errada, mas de uma forma que a filha se inveja da mãe ou que a irmã caçula se inveja da mais velha.
Com o passar do tempo, nossa proximidade aumentou, eu a seguia onde quer que ela fosse e vice-versa, matavamos aula para nos sentarmos na mesinha de plástico azul escura do pátio da faculdade - para o desgosto dos professores, onde ficavamos por horas, tomando mocaccino ou coca-light e dividindo um pacotinho de amendoin para evitarmos calorias em excesso. Posteriormente, outras pessoas juntavam-se ao nosso ritual, e as horas voavam em ritmo de festa.
Ela me mudou, passei a enxergar a vida de outra forma, passei a me relacionar mais com as pessoas, aquela menina que se sentava no fundo da sala já não existia mais, ela fora substituida por alguém cheio de esperança e confiança. Tinhamos o que posso chamar de uma amizade verdadeira, sem maldade, eramos apenas duas pessoas que se completavam de alguma forma, que encontraram a alegria no vazio de suas vidas. Claro que nem tudo sempre fora um mar de rosas, eramos tambem rodeadas por pessoas sem escrupulos, mal intencionadas, que continuamente tentavam semear o ódio entre nós, para por um fim em nossa amizade, mas, nosso laço era forte e juntas, superamos todos os obstáculos e amadurecemos com eles. Em nossa jornada juntas, vimos muitas mascaras caírem e com elas, guerras infundadas se iniciaram, mas sempre nos mantivemos firmes, entre choros e sorrisos, davamos as mãos e lutavamos até o fim e hoje, após quase 6 anos, olho pra trás e posso orgulhosamente dizer que vencemos.
Ela se chama Sandra and she is my best friend.
Ela é minha Thelma e eu sou sua Louise, eu sou sua Rose e ela é minha Lissa, somos amigas, irmãs, mãe e filha, unidas pela eternidade.
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