Promessa de sangue

By 6:16 PM

"Um por um, os fantasmas ao meu lado desapareceram. Senti meu mundo voltando ao normal. Mas, quando olhei para baixo, vi que os fantasmas abandonaram Dimitri também - como eu já suspeitava. E assim, ele começou a mover-se novamente.

"Droga" minha palavra da noite.

Consegui me colocar de pé dessa vez enquanto ele corria até a ladeira. Novamente, ele estava mais lento que o usual - mas ainda rapido o suficiente. Comecei a recuar, nunca tirando os olhos dele. Livrar-me dos fantasmas havia me dado mais força, não o que eu precisava para escapar. Dimitri vencera.

"Outro efeito de um beijado pelas sombras?" ele perguntou, pisando sobre a ponte.
"Sim", engoli seco. "Aparentemente os fantasmas não gostam muito de Strigoi"
"Você também não pareceu gostar muito deles"
Dei outro passo lento para trás. Para onde eu poderia ir? Assim que eu me virasse para correr, ele estaria diante de mim.
"E então, fui longe o bastante para você decidir não me transformar?" perguntei o mais animada que pude.
Ele me lançou um sorriso torto. "Não. Suas habilidades de um beijado pelas sombras tem suas vantagens...uma pena que as perderá após seu despertar". Então. Esse ainda era seu plano. Apesar do quanto eu o havia enfurecido, ele ainda me queria para a eternidade.
"Você não irá me despertar," eu disse.
"Rose, não há como você -"
"Não"

Escalei sobre a grade da ponte, passando uma perna por cima. Eu sabia o que aconteceria agora. Ele congelou.

"O que você está fazendo?"
"Eu lhe disse. Morrerei antes de virar Strigoi. Não serei como você ou os outros. Eu não quero isso. Você não queria isso". Minha face sentiu o gelo de uma brisa noturna, resultando em lágrimas furtivas em minhas bochechas. Passei minha outra perna por cima da grade e espiei a correnteza que se movia rapidamente. Estavamos há pouco mais de dois andares de altura. Eu atingiria a água com força, e mesmo que eu sobrevivesse à queda, não teria força o suficiente para nadar até a margem. Enquanto olhava para baixo, contemplando minha morte, me recordei de quando Dimitri e eu nos sentamos nos bancos traseiros de uma SUV, discutíamos esse mesmo assunto.

Era a primeira vez que nos sentávamos tão próximos. Seu cheiro era bom - aquela essência, a essência que tinha quando estava vivo havia partido - e ele estava mais tranquilo que o normal, pronto para sorrir. Conversamos sobre o que significava estar vivo e ter pleno controle de sua alma - e o que significava tornar-se um dos mortos vivos, perder o amor e a luz da vida e também todos aqueles que você conhecia.
Nos olhamos e concordamos que a morte seria melhor que aquele destino. Olhando para Dimitri agora, eu havia de concordar.

"Rose, não." Eu ouvi o pânico em sua voz. Se ele me perdesse na beira, eu partiria. Sem Strigoi. Sem despertar. Para que eu fosse transformada, ele precisaria drenar todo meu sangue até minha morte e depois me alimentar com o seu próprio. Se eu pulasse, a água me mataria, sem derramamentos de sangue. Eu estaria morta há muito tempo antes que ele pudesse me encontrar no rio.
"Por favor" ele implorou. Havia um tom de lamento em sua voz, um que me estremeceu. Fez meu coração se contorcer, lembrou-me muito do Dimitri vivo, aquele que não era um monstro. O que se importava comigo e me amava, que acreditou em mim e fez amor comigo. Esse Dimitri, o que não era nenhuma daquelas coisas, deu cuidadosamente dois passos adiante, e parou novamente. "Nós precisamos ficar juntos".
"Porque?" perguntei suavemente. A palavra fora carregada pelo vento, mas ele ouviu.
"Porque eu quero você"
Eu o respondi com um sorriso triste, a pensar se nos encontrariamos novamente na terra dos mortos. "Resposta errada" eu disse.

Me soltei.

E ele estava bem ali, correndo para mim com aquela velocidade insana de um Strigoi enquanto eu começava a cair. Ele estendeu uma mão e capturou um de meus braços, me arrastando de volta para a grade. Bem, meio-arrastando. Apenas parte de mim estava sobre a grade, o restante ainda se pendurava sobre o rio.

"Pare de lutar comigo", ele disse, tentando puxar o braço que ele segurava.
Ele estava numa posição precária, pressionando-se contra a grade enquanto ele tentava se inclinar o suficiente para me pegar e me segurar.
"Me solte" gritei de volta.

Mas ele era muito forte e conseguiu alçar quase todo meu corpo de volta para a grade, o suficiente para que eu não corresse o risco de cair novamente.
Veja, esse foi o ponto chave. Naquele momento antes de eu me soltar, eu realmente havia contemplado minha morte. Eu a aceitara. Eu também, entretanto, sabia que Dimitri possivelmente tomaria essa atitude. Ele era realmente rapido e bom. E era por isso que eu segurava a estaca na minha mão ainda pendurada.

Eu o olhei nos olhos, "Sempre te amarei".
E então mergulhei a estaca em seu peito.

Não fora um golpe tão preciso quanto eu gostaria, não com a maneira habilidoza em que ele se esquivava. Com grande esforço tentei empurrá-la fundo o suficiente para alcançar o coração, incerta de que conseguiria fazê-lo deste angulo. Então, ele parou de se debater. Seus olhos me fitaram, aturdidos, e seus lábios entreabriram-se, quase em um sorriso, embora um terrível e doloroso.

"Era isso que eu deveria dizer..." ele ofegou.
Aquelas foram suas últimas palavras.

Sua tentativa falha de desviar-se da estaca o fez perder o equilibrio na beirada. A magia da estaca tornou o restante fácil, paralizando a ele e seus reflexos.

Dimitri caiu.

Ele quase me arrastou com ele, e mal consegui me libertar e me agarrar a grade. Ele caiu na escuridão - para baixo, baixo na negritude do rio. Um momento depois, ele desapareceu de minha vista. Eu olhei fixamente para onde ele caira, a pensar se eu o veria no rio. Mas não o vi. O rio estava muito escuro e muito distante. As nuvens cobriam a lua e a escuridão pairou ao meu redor novamente. Por um momento, olhei para baixo me dando conta do que eu acabara de fazer e eu queria me jogar atrás dele, porque certamente eu não poderia viver mais.
Você precisa, minha voz interior era muito mais calma e confidente do que deveria ser. O velho Dimitri iria querer que você viva. Se você realmente o ama, então deve seguir em frente.
Sem fôlego, escalei sobre a grade e voltei para a ponte, surpreendentemente grata por sua segurança. Eu não sabia como iria viver agora, mas eu sabia que era isso que eu queria."

Trecho extraído do livro Blood Promise - Richelle Mead

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