Fear of the dark
Eu dirigia para casa, após um dia extremamente irritante. Eram 22:10, eu ouvia a Wish you were here do Pink Floyd na Kiss FM, e de repente, tudo ficou preto. Os postes de luz se apagaram, assim como as luzes das casas ao longe. Pronto, era só o que me faltava, pensei, alterando o farol do carro para o alto, porque em meio a toda aquela escuridão, eu não enxergava a um palmo diante de mim.
Entrei no condomínio, as crianças corriam na rua, gritando, entretidas com a escuridão, é incrível como elas conseguem achar diversão em tudo, até mesmo nas coisas mais improváveis. Meu primeiro pensamento ao estacionar o carro foi como eu conseguiria me prevenir do ataque das baratas no escuro. Meu corpo tremeu ao pensar que várias "marronzinhas" com antenas gigantes me esperavam ao lado da porta do quintal, apanhei minha bolsa no carro e corri, pra que caso houvesse alguma na espreita, ela não ia ser rápida o suficiente pra voar em mim se eu corresse.
Entrei na sala, minha mãe tentava grudar algumas velas em pires enquanto eu xingava até minha nona geração. Porque a luz não acabou enquanto eu trabalhava? Murphy, claro, sempre meu melhor amigo.
Me troquei, com extrema dificuldade, levando em conta que apenas uma vela - que já estava quase no fim - iluminava o quarto, claro que minha irmã me acompanhou na minha trilha para o quarto, afinal, eu não ando sozinha no escuro "nem a pau". Essa aversão é apenas resultado de anos de filmes de terror e de leituras ainda piores. Enfim, apanhei meu livro, uma lanterna e voltei para a sala, onde a família se reunia. Me joguei no sofá, pensando no que diabos eu iria fazer, e como de praxe, deram-se inicio a algumas conversas assustadoras, automaticamente eu as ignorei - ou tentei ignorar, sabendo que a consequência seria uma noite como insone.
Os minutos foram passando, cada um seguia para sua cama e me deitei aconchegada no sofá, recusando-me a ficar sozinha em qualquer outro cômodo da casa. Minha irmã deitou ao meu lado e liguei a lanterna, apoiando-a em meu peito enquanto encostei o livro aberto entre minhas coxas. Felizmente, me envolvi tanto com a leitura que consegui desviar meus pensamentos do mundo real. Mas, foi durante uma pausa pra ir ao banheiro que notei o silêncio morbido que me rodeava. Minha irmã dormia no sofá, e minha mãe resolveu ir deitar com meu cachorro. Perfect.
Apanhei a lanterna e subi a escada até o banheiro mais próximo, meus pés tocavam os degraus de madeira que rangiam no ar, eu cantarolava algumas musicas em minha cabeça, tentando não dar atenção ao meu medo, mas meu coração acelerado não facilitava as coisas.
Voltei para a sala e as três velas distribuidas por ela já estavam quase no fim, assim como as pilhas da lanterna que eu segurava. Substitui as velas por novas, e voltei a me deitar no sofá, a chama da vela sobre a mesa balançava vagarosamente, sua sombra na parede dava a impressão de que um vulto se movia. Abri o livro novamente, ignorando o cenário a minha volta. E a luz da lanterna falhou, e outra vez eu estava a xingar todos as minha gerações.
Coloquei a lanterna e o livro na mesinha de vidro e apanhei meu celular, pluguei os fones de ouvido e selecionei algumas musicas relaxantes. Tirei meu oculos, deitei de bruço, tentando me sentir confortável, é difícil encaixar um corpo de 1,70 num sofá minusculo. As músicas lentas eram como tranquilizantes, me guiando a um transe. Mas, para a minha surpresa - ou não - o celular apitou, quando acendi o visor colorido, ele dizia "Bateria fraca". Puta que o pariu, pensei entre milhares de outros palavrões. Coloquei o celular de lado, quase arremessando-o e foi então que percebi que não haviam outras alternativas. Eu teria que encarar a escuridão. Os barulhos ao longe sussurravam em meus ouvidos, o sibilar dos morcegos, o vento suavemente uivando na janela, as patinhas do meu cachorro no piso de madeira. Fechei os olhos, me virava de um lado para o outro, esperando que em poucos minutos adormeceria, mas foi em vão, os sons que normalmente são desinteressantes, essa noite se tornaram apavorantes e ensurdecedores. E foi assim que, passei as próximas três horas, lutando contra meu medo, tentando dormir, o que só aconteceu as 5:20 da madrugada.
E agora estou aqui, parecendo um zumbi.
"Fear of the dark, fear of the dark
I have constant fear that something's always near
Fear of the dark, fear of the dark
I have a phobia that someone's always there
Have you run your fingers down the wall
And have you felt your neck skin crawl
When you're searching for the light?
Sometimes when you're scared to take a look
At the corner of the room
You've sensed that something's watching you"
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