Cafona assumida
Estava cá com os meus botões pensando que tudo tem o tempo certo na nossa vida. Ao longo dela, passamos por centenas de períodos e com eles, vamos evoluindo.
Quando crianças, só pensamos em brincar, na adolescência os hormônios começam a ter vida própria e acabamos descobrindo um mundo novo e com isso, ansiamos pela maioridade que teoricamente nos abrirá centenas de portas. E então ela chega e com ela, vem a primeira faculdade, o primeiro emprego, o orgulho de poder entrar em baladas mostrando o seu RG verdadeiro.
Nessa fase, nada mais importa do que o programa para o sábado a noite, sempre um lugar novo, mas com o mesmo objetivo. Beber até passar mal, porque nessa idade, passar mal por causa da bebida é algo do qual as pessoas se orgulham, e além da bebida, logicamente, há o lado da caça que naturalmente desperta na maioria das pessoas, principalmente as mais jovens. Quanto mais pessoas vc "pegar" em uma noite, melhor vc é. Embora hoje eu ache tudo isso babaquice, eu também passei por essa fase, acho que faz parte do processo de amadurecimento, mas claro que não é uma regra, nem todos são assim.
Eu ia em centenas de baladas góticas, bebia como se não houvesse amanhã e em cada noite estava acompanhada por um rapaz novo, com os quais eu não queria mais nada além de me divertir ali na pista de dança por algumas horas e depois, ia embora pra zerar tudo outra vez. Mas com o passar dos anos, isso tudo passou a não fazer mais sentido pra mim, qual era a graça ter um monte de amigos com os quais eu bebia e passava todas as madrugadas em lugares onde conversar era uma tarefa próxima do impossível, sendo que quando eu queria um desses amigos para ir ao cinema ou dar uma volta em qualquer outro tipo de ambiente, eles nunca estavam dispostos? E também, havia o fato de que "um rapaz novo" por semana já não era tão interessante, porque eu comecei a sentir falta da companhia na segunda, na terça e assim por diante e foi assim que aos poucos, fui me afastando desse mundo todo, não que eu nunca mais frequentei, infelizmente sou obrigada a participar de tais eventos vez ou outra, a não ser que eu de fato decida viver como eremita.
E embora essa devesse ser apenas uma fase, acredito que essa seja a que as pessoas mais tem dificuldade de se libertar. Na idade em que estou, não me vejo mais enfiada em baladas todos os finais de semana, bebendo até cair, escolhendo uma presa nova por semana, eis algo que definitivamente não me traria qualquer tipo de orgulho, pelo contrário. Hoje estou na fase "light" ou então cafona, como outras pessoas preferem rotular. Pra mim, é muito mais prazeroso passar o meu dia/noite em um lugar onde eu não serei vista como mais uma vagabunda da vez e onde estarei longe de cafajestes à espreita. Nas últimas semanas, eu pude ver o quanto é gostoso resolver ir jantar no meio da semana em um restaurante diferente, com música ao vivo e em boa companhia. Ou então, sentar em um parque e ler um livro na sombra de uma árvore naquela tarde quente de domingo, ou simplesmente ir ao cinema a meia noite de um sábado e acabar morrendo de rir com um filme que vc achou que seria um lixo.
Prefiro muito mais passar os meus dias "cafonas" assim, vendo um casal dividindo um picolé, uma criança rolando na grama e se sujando inteira, uma mulher tentando tirar foto de um passarinho que não para de se mexer, do que ir a uma balada qualquer e ver aquele tiozão de 40 anos fazendo o possível para que o grupinho de meninas de 20 anos o note ou então ver aquele monte de gente falando mole porque encheram o cú de cerveja, ou aquele grupo de rapazes que conversam em um círculo e definem qual será a vítima a ser convidada pra uma "night stand". Se isso é vida pra vcs, então aproveitem-na, pois eu vou continuar vivendo minha vidinha cafona, porém, com muito mais a me acrescentar do que 5 litros alcool fariam.
Besos
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