Indecisos, uni-vos!

By 3:43 PM


Eu provavelmente sou um dos seres humanos mais indecisos da face da terra. Todos que me conhecem bem, sabem que tenho o dom de nunca terminar as coisas que começo. Por ser uma pessoa que é movida a sonhos, eu acredito que na maioria das vezes, início algo pensando que será fácil, perfeito e todos sabemos que na prática, complicação sempre anda de mãos dadas com praticamente tudo.

Pra começar, eu odeio estudar, odeio aquela obrigação de ter que frequentar um lugar de segunda a sexta (e sábado também, pra maioria dos cursos) em que vc senta por quatro horas ou mais, lê e ouve um monte de coisas, na maioria das vezes inúteis, pra depois ter que passar uma semana inteira estudando pra provas que classificarão se vc é apto ou não pra estar ali.

Tudo o que tenho que fazer com obrigação, nunca flui, porém, se decido fazer algo por conta própria, sem prazos ou cobranças, tudo transcende a perfeição. A prova disso é minha "fluência" na língua inglesa. Nunca fiz curso em escolas de idiomas, simplesmente porque meu pai julgava como um supérfluo, mas mesmo assim, como amante da língua, decidi que aprenderia sozinha. Passava horas traduzindo músicas no computador, acessando a chats (Mirc, Paltalk) na internet, nos quais eu podia conversar com pessoas do mundo todo e também adorava joguinhos online, onde o contato com estrangeiros era constante. Com o passar dos anos, sem que eu realmente percebesse, meu inglês evoluiu a tal ponto que escrevi um livro em inglês e hoje, sou professora.

Mas voltando no túnel do tempo, aos 17 anos, engatei em um curso na faculdade que acreditava ser perfeito pra mim e também porque meus pais, um tanto quanto tradicionalistas, seguiam o pensamento de que uma pessoa deveria ingressar em um curso superior assim que terminasse o colégio. E lá estava eu no primeiro semestre do curso de Psicologia, ciente de que os cinco anos passariam na velocidade da luz e já me imaginando em uma clínica, atendendo a maior variedade de pessoas possíveis. Mas o sonho foi se tornando cada vez mais distante à cada aula, à cada prova e à cada final de semestre, em que eu checava as notas pela internet e via que tinha reprovado em mais da metade das matérias. Se tudo já é difícil hoje que tenho 27 anos, imaginem aos 17, onde a vida está começando e as coisas nada mais parecem do que um monte de baboseiras desnecessárias? E então, depois de dois anos, acabei desistindo, para o desgosto do meu pai, que sonhava em ter a filha "médica", cheia de grana e bem-sucedida e que então teve que preparar um discurso pra todos os familiares sobre o porquê de eu ter desistido de estudar.

Depois disso, fiquei seis meses em meu "private" retiro espiritual, pensando no que diabos iria fazer da minha vida. Eu sabia que, mesmo odiando estudar, não haveria a possibilidade de fugir pra sempre, não nasci em berço de ouro, com isso, trabalhar era imprescindível. E então, optei por estudar Letras, sem saber ao certo o porque, mas partindo do princípio que eu adorava inglês, logo, escolher um curso em que boa parte das matérias tratavam do assunto, soava o ideal.

E não, mais uma vez, não era o que eu queria, tampouco o que eu esperava, mas, por se tratar de um curso mais curto que a maioria (3 anos) e também de uma amiga que me ajudava em praticamente tudo, resolvi ficar até o fim. E embora tenha participado do último dia de aula e me "formado" há praticamente 5 anos, até hoje não entreguei os estágios exigidos pela faculdade, o que prova mais uma vez que, eu nunca termino o que começo. Mas no ano seguinte, com a ajuda da mesma amiga - que me salvava das provas da nossa querida e adoravel professora Tania, também comecei a trabalhar na área, em uma escola de inglês.
Eu, superhiperultramegablaster tímida, nunca me imaginei como professora, sempre achei que diante de uma sala com mais de 3 pessoas, eu infartaria, mas como sempre, a vida acaba nos impressionando e nos mostrando que às vezes podemos ser excelentes em algo que nunca esperamos ser capazes de fazer. E venho trabalhado na área desde 2007. Nesse período, já passei por algumas escolas e por motivos de exaustão, optei por largá-las e trabalhar por conta e assim tem sido desde Agosto do ano passado.

Porém, nesse tempo de indecisão que envolveu minha carreira, também houveram milhares de outras coisas que comecei e não terminei. Como por exemplo, minha escolha de ir morar nos Estados Unidos que se deu por culpa de paixonites e outras razões que serão assuntos pra um outro post.

Em 2008, quase dois anos depois de ter me formado e já tendo sido promovida à coordenação na primeira escola de idiomas em que trabalhei, resolvi pedir demissão, por uma infinidade de motivos que não vem ao caso, mas também porque eu iria para os EUA. Consultei milhares de agências e acabei entrando pra um programa de intercâmbio (Au Pair), no qual eu moraria com uma família em outro país e cuidaria dos seus filhos em troca de uma merreca de salário, casa e estudo. A parte mais difícil da minha decisão foi convencer meu pai - o ser humano mais quadrado do universo - a me deixar ir. Depois de muita conversa e explicação, ele acabou "comprando" a idéia. Preparei tudo, paguei parte do programa, encontrei uma família aparentemente perfeita em New York e me lembro que a data de embarque havia sido agendada para o dia do meu aniversário, 01/03/2009. E então, nos 45 minutos do segundo tempo, diante de uma crise mais do que existencial, desisti de tudo.
Liguei pra agência, que tentou me convencer a ir, e informei a todos os familiares e amigos que aguardavam ansiosamente pela minha viagem. Todos desacreditaram. E até meus pais, que levaram tempo pra digerir a idéia de sua filhinha querida morar em outro país, insistiram pra que eu fosse. Mas não fui. E mais uma vez, enfatizando o rotulo de pessoa que nunca termina o que começa.

Também já comecei a escrever milhares de livros que não terminei, apenas um, porém, ele está escondido em uma pasta do meu computador e não fui atrás de editoras pra tentar publicá-lo. Já entrei em um curso de teatro que tinha a duração de 1 ano e eu, durei apenas um mês nele. Acadêmias então, nem se fala, nelas eu sou mestre em desistência. E isso tudo também se aplica a relacionamentos, mas essa parte acho que não preciso nem comentar, os outros posts falam por si só.

Na realidade, eu sou uma daquelas pessoas que a beira dos 30 anos, ainda não sabe bem o que quer. Há dias em que eu quero casar, em outros, odeio o sexo masculino. Há dias em que amo ser professora, e em outros quero abandonar tudo e virar analista de crédito em um Banco qualquer. Eu sei que há milhares de pessoas assim por aí, e tem um lado bom em querer fazer tudo e ao mesmo tempo, em querer fazer nada, a gente se arrisca muito mais nas coisas, embora a maioria delas possam não parecer corretas aos olhos dos outros. Mas convenhamos, um pouquinho mais de certeza, seria bom, né?

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