Um grito calado

By 9:35 AM

Tive uma noite meio estranha, meio conturbada.
Me revirava de lá pra cá na cama e eventualmente cochilava, pra acordar em seguida sentindo uma inquietação irritante, uma agonia que me consumia. Peguei o celular na mesinha, já eram 4 horas da manhã. Senti uma vontade imensa de levantar, vestir uma calça jeans e uma camiseta, pegar a chave do carro e dirigir sem rumo por alguma estrada desconhecida, na qual apenas o faról do carro me guiaria, na esperança de chegar em algum lugar onde eu pudesse respirar, onde eu pudesse olhar para os lados e ver centenas de rostos estranhos que não me causariam mal algum.

Gostaria de ir a um lugar com um parque, para que eu me sentasse em um banquinho qualquer e contemplasse as crianças brincando e se comunicando em uma língua que só elas entendem, os cachorros correndo sem objetivo aparente, poder sentir a brisa no entardecer sem me preocupar se o telefone irá tocar, com a mãe que não está bem, com o salário no fim do mês ou com o contínuo pensamento de que algo está sempre errado.

Mas eu sabia que era impossível, que não podia me levantar e dar adeus a essa rotina agonizante que me rodeia. Abri os olhos, a claridade da televisão iluminava parcialmente o quarto escuro, e apanhei o celular novamente, enquanto tentava ignorar as sombras estranhas que pareciam criar vida na parede, eram 5 horas. Fiquei ali deitada de barriga para cima, olhando para o teto, todos os pensamentos destrutivos ressurgiram em minha cabeça, e senti uma lágrima se formar em meus olhos, a enxuguei enquanto internamente me xingava de fraca. E então me virei de bruço, engoli o grito e fechei os olhos, na esperança de dormir e sonhar com aquele parque ensolarado, repleto do aroma forte das rosas e o som da água de um lago ao longe. Um parque cheio de estranhos, um monte deles.

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